12 de setembro de 2010

Mulher Arrependida

Esse é o meu predileto! Foi publicado pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores, na seletiva de abril desse ano. Para mim, de todos que já escrevi, esse é o mais digno de ser publicado! O resto é amadorismo puro... 

Costumo escrever quando me angustio por alguma situação, qualquer que seja ela... Angustias que geram aquela sofreguidão no estômago, levando a emoção ser sentida fisicamente! 

Esse como o nome já diz (inspirado também no Mulher ao Espelho de Cecília Meireles)  surge da angústia do arrependimento! Eu, que sou (era) feita de orgulho e indiferença, em alguns momentos sofro de arrependimentos. Eis que um dia as palavras pularam e se arranjaram dessa maneira!

Mulher Arrependida


Minha cabeça ferve e lateja, porque pensa
Pensa em você, pensa em nós 
Pensa como foi e como seria

Ferve porque te quero, lateja por não te ter
Ferve quando pensa
que em meus braços já te tive
Lateja por saber que hoje
outros braços te tem

Já disse o que não sentia
E hoje sinto que poderia te dizer
que o mundo era só nosso
E que te ter era o que fazia meu mundo melhor

Era o que fazia o meu eu
Encontrar o seu
Num mundo de loucuras
Dois loucos tentando ser normais

Você louco com o mundo
E eu louca por você
E o mundo? Ria de nós...

Hoje penso nesse mundo
Que um dia já foi nosso
Mas hoje ele é só meu
Porque tentando ser normal
Para que o mundo deixasse de rir
Internei minha loucura e te perdi...

Alma.

Fonte figura: 
http://farm1.static.flickr.com/146/400136275_5cfb85eee7.jpg

3 de setembro de 2010

O Objeto (das vontades)...

Sobre as nossas vontades... Objetos de desejo.

Chega um momento em que todos os sentimentos e momentos vividos viram vontades. Perturbam nossa cabeça, os pensamentos, distorcem verdades... Nesses momentos nossas energias são consumidas por essa vontade que nos toma. Vontades insanas! Insanos desejos! De alma e de corpo! Em um desses momentos surgiu o 'Vontade de Você'.

E ainda no universo das vontades e dos objetos de desejo, essa música do grupo 3 na massa, 'O objeto', é deliciosa! Tive que compartilhar nesse post...



Vontade de Você

Essa vontade do seu cheiro
Da sua pele
Me arrepia
Me embriaga 
Esse é meu vicio
Essa é minha cachaça 
Vontade de você
Vontade de te ter 
Essa vontade do seu corpo
Me despedaça
E me maltrata
Me faz prisioneira
Da vontade
Prisioneira de você 
Não me liberta
Só me encarcera
Me acorrenta
E me arrasta 
Me arrasta pro seu corpo
Pra sua pele
Pro seu cheiro
Pra vontade de você

2 de setembro de 2010

Ser e não ser

Hoje vou postar um poema de um cara muito importante nessa minha vida de escritos. Já falei dele aqui no blog: Cássio Fonseca. Um primo meio distante, mas que virou um amigo. Já dizia o poeta torto "Família não é sangue, família é sintonia". E não é verdade? (Sem qualquer apologia.) Dizem que os amigos são a família que a gente escolhe, e eu acho que é bem por aí mesmo. Então esse meu primo ao quadrado foi o cara que mais me incentivou a escrever e a divulgar isso de alguma maneira. Assim sendo, cá estou.

Este poema do Cássio é um dos que mais gosto. Gosto porque ele é de uma sinceridade bárbara. O eu lírico é franco, fala de uma maneira leve, mas, ao mesmo tempo, com uma profundidade incrível. Para mim, escrever bem é isso: não precisar usar linguagem rebuscada, termos que a maioria das pessoas nunca usa (em muitos casos, nunca nem ouviu falar), palavras que apenas existem como uma relíquia da língua vernácula. Até respeito, mas não admiro. A descrita do Cássio é o oposto, uma linguagem acessível, clara, simples e leve. Mesmo que em alguns casos aconteça o que eu disse, ou seja, tenha uma profundidade incrível.

Neste poema, chamado "Ser ou não ser" (sinto uma fragrância shakespeareana no ar...), o eu lírico passa uma mensagem em linguagem leve, mas que eu percebo como um peso enorme. Porque ele diz tudo que ele não é para sua interlocutora (considero uma interlocutora com base no autor e no uso do masculino na segunda linha - mas cada um entende a situação como preferir...), como que justificando seu adeus "ingrato". Talvez nem seja uma justificativa. Talvez um adeus nem seja ingrato. Mas fica a critério de cada um a interpretação. Bem, chega de opiniões minhas, vamos ao poema do meu primo:

Ser e não ser

Não sou tua sombra.
Não sou o autômato que te espreita
nem o espectro que te ronda.
Não sou remédio pra tua maleita.

Não sou o espelho de tua alma.
Não sou tua paixão embrulhada em presente
nem o amor repousado em tua palma.
Sou apenas semente.

Mesmo que minha intenção seja teu gozo.
Mesmo que minha razão seja teu desatino.
Mesmo que meu peito seja teu repouso.
Não sou teu destino.

Mesmo que meu ensaio seja teu primeiro ato.
Mesmo que meu talvez seja teu sim.
Mesmo que meu adeus seja ingrato.
Sou apenas começo, sem meio e fim.


Aí está. Uma verdadeira obra de arte, não? Acho este poema de uma sensibilidade fabulosa. Eu, particularmente, gosto desses paradoxos, da escrita com paixão, mesmo que seja com o propósito de um fim.

Falando em fim, a última linha é demais! Quando ele mandou este poema junto com outros para eu fazer a revisão, não percebi o significado desse último verso. Pensei apenas no ritmo e sugeri que ele colocasse "Sou apenas começo, sem meio e sem fim." A fina Flor da esperteza que vos fala (ou que vos escreve, neste caso) não notou o encanto do "e fim". Foi preciso o Cássio me dizer. Dá para acreditar? Não me orgulho disso... que vergonha! Mas, assim, a magia foi maior. Minha perspicácia de Chapolin Colorado pelo menos serviu para dar mais surpresa a esta linha. Aí gostei mais ainda, pois fica muito bonito deste jeito, sendo o "e fim" o sem-fim do eu lírico (que é apenas começo, sem meio e também sem fim) e o fim do poema. Ah, lindo!

Vale a pena reler. Vale a pena voltar e prestar atenção aos detalhes, aos paradoxos, às nuances, à sensibilidade, à escolha cuidadosa das palavras que dão a rima. Receber um adeus assim nem dói tanto... Ou dói mais ainda, né?! Afinal, o que a mulherada busca hoje em dia são os caras sensíveis. Aí vem um eu lírico desse e termina com ela dessa maneira, putz! Acho que se fosse comigo eu chorava de esguicho... Mas depois me consolava com tamanha beleza. Eu haveria de convir que dificilmente alguém recebe um adeus desta forma. Como um adeus pode ser ingrato com tanta consideração? Sim, acho que é consideração, pois o cara é sensível, é cuidadoso, tem tato, não chega terminando de qualquer jeito. É, se fosse comigo, eu primeiro ficaria arrasada de ter que deixar partir um cara sensível assim, mas depois ficaria até honrada com a forma e delicadeza do adeus. Na verdade, até que a dor passasse, eu ficaria oscilando entre ambas as reações!

Mais uma vez, parabéns, Cássio, pelo seu talento! E pela generosidade de nos deixar colocar seus poemas aqui no blog. Em breve haverá outros!