Achei que caberia um post para comentar o texto da Rhadra, "Amor Inesperado". Afinal, a proposta do blog é trocar com os pares, revelar ideias...
Não sei nem por onde começar... São muitos os "não acasos" acontecidos com esse post, com esse novo perfil da "Flor"...
Vou começar pelo perfil:
Eu e Deh, minha amiga aqui da casinha da Tijuca (que chamamos de Vênus, nosso planeta inspirador), passamos por uma fase muito parecida, na verdade estamos em sincronia, e em uma de nossas conversas, refletimos sobre como devemos "ser nós" para nos impor diante das nossas emoções e das pessoas. Esse "ser nós" (ser eu) significa nos mostrar para o mundo, sem amarras, livres... digamos assim... E esse pensamento ficou muito marcado em nossas atitudes.
Bem, para concretizar esse momento, o universo sinalizou que estamos no caminho certo. Em nosso amigo oculto de fim de ano, que é o amigo oculto do desapego, temos que dar uma coisa nossa, nos desapegar. Tirei a Deh. Não sabia o que dar. E na procura sem frutos, me deparei com um livro que é uma coletânea de crônicas da Clarice Lispector, "A descoberta do mundo". Folheando o livro, caiu um marcador de página que era uma pintura da Monalisa. E a Deh, para nós amigos, tem a expressão da Monalisa, sempre é lembrada por isso. Na mesma hora percebi que esse seria o presente. E quando fui ver qual era o texto que estava marcado, fiquei mais certa ainda, "Se eu fosse eu", que reproduzo ao final deste relato.
Nem preciso dizer que 2013 entrou com esse propósito de "sermos nós".
E quando venho ler o novo post do blog, me deparo com o novo perfil de "Flor", agora Rhadra, que diz: "Voltei a ser eu!". Acaso? Não, não... É o não acaso. É o simbólico. É a vida se mostrando nas sutilezas.
Já os outros acontecimentos, acho melhor deixar para depois. A estória ficou longa demais!
Se eu fosse eu
Clarice Lispector
Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se
revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para
guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão
pressionada pela frase “se eu fosse eu”, que a procura do papel se torna
secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.
E não me sinto bem. Experimente: se você
fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento:
a mentira em que nos acomodamos acabou se ser levemente locomovida do lugar
onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente
passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que eu fosse
realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha
fisionomia teria mudado. Como? Não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse
eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por certo motivo eu terminaria
presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro
ao futuro.
“Se eu fosse eu” parece representar o
nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova do desconhecimento. No
entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da
festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. E a nossa dor, aquela
que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase
de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de
algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de
pudor que se tem diante do que é grande demais.